Estudo inédito no País revela que quase metade dos universitários brasileiros já fizeram uso de alguma substância ilícita.
Brasília-DF (23/06/2010) - O I Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras traz um retrato do consumo de álcool, tabaco e outras drogas por mais de 18.000 universitários. O estudo revela que quase metade dos universitários brasileiros já fez uso de alguma substância ilícita e que 80% dos entrevistados, que se declararam menores de 18 anos, afirmaram já ter consumido algum tipo de bebida alcoólica.
Outro ponto surpreendente é que o consumo de álcool, tabaco e outras drogas entre os universitários é mais frequente que na população em geral, o que reforça a necessidade de um maior conhecimento desse fenômeno para o desenvolvimento de ações de prevenção e elaboração de políticas específicas dirigidas para este segmento.
O estudo é uma realização da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), órgão do governo federal responsável por coordenar a implementação da Política Nacional sobre Drogas (PNAD), e da Política Nacional sobre o Álcool (PNA), em parceria com o Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (GREAFMUSP). A divulgação ocorreu no dia 23 de junho de 2010, no Auditório do Anexo I, do Palácio do Planalto, em Brasília, Distrito Federal, e faz parte do calendário da XII Semana Nacional Sobre Drogas.
Participaram do levantamento quase 18.000 universitários, matriculados no ano letivo de 2009, em cursos de graduação presencial, de 100 Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas de 27 capitais brasileiras. Os estudantes responderam a um questionário estruturado, de autopreenchimento e com três medidas sobre o uso de drogas:
1. Uso na vida (uso experimental, ou seja, “pelo menos uma vez na vida”);
2. Uso nos últimos 12 meses (ou seja, “pelo menos uma vez nos 12 meses que antecederam a entrevista”);
Os dados do estudo foram divididos didaticamente em nove tópicos:
1. dados sócio-demográficos;
2. prevalência e padrão de uso do tabaco e outras substâncias psicoativas;
3. prevalência e padrão de uso do álcool;
4. uso múltiplo de drogas;
5. uso de drogas na Universidade de São Paulo;
6. prevalência de comportamentos de risco;
7. saúde mental;
8. comparação do uso de drogas entre os universitários e outros segmentos sociais;
9. políticas públicas sobre drogas nas Instituições de Ensino Superior.
Entre as conclusões do I Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras, estão os seguintes dados:
- 49% dos universitários pesquisados já experimentaram alguma droga ilícita pelo menos uma vez na vida
- Do grupo dos universitários que se declararam menores de 18 anos, 80% dos entrevistados afirmaram já ter consumido algum tipo de bebida alcoólica;
- 86% dos universitários já fizeram uso na vida de álcool e 47% de produtos de tabaco
- 22% dos universitários estão sob risco de desenvolver dependência de álcool e 8% de maconha;
- 36% dos universitários beberam em binge* nos últimos 12 meses e 25% nos últimos 30 dias;
- Cerca de 40% dos universitários usaram duas ou mais drogas nos últimos 12 meses e 43% relataram já ter feito uso múltiplo e simultâneo de drogas na vida. Desses 43%, 47,8% alegaram como motivação do uso “simplesmente porque gostavam ou porque lhes possibilitava esquecer os problemas da vida”;
- 18% dirigiram sob efeito de álcool e 27% pegaram carona com motorista alcoolizado;
- 9% não possuem o hábito de utilizar métodos contraceptivos, 3% já forçaram ou foram forçados a engajar em intercurso sexual e 41% declararam já ter feito o teste para detecção do vírus HIV;
- A prevalência de abuso de álcool foi maior entre os universitários que na população geral. Já a dependência foi encontrada com maior prevalência para a população geral;
- O uso de substâncias ilícitas (geral) é maior entre os universitários das regiões Sul e Sudeste, de instituições privadas, da área de Humanas, do período noturno e por universitários com idade acima dos 35 anos. Não foi observada a interferência de gênero sobre o uso geral de drogas;
- A prevalência do uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas é semelhante entre universitários brasileiros e norte-americanos, salvo algumas particularidades: o uso de maconha é maior entre os universitários norte-americanos e o uso de inalantes é maior entre os universitários brasileiros;
- 21% dos universitários fazem uso de produtos do tabaco;
- O risco de desenvolver abuso/dependência para maconha é maior entre os homens e de anfetamínicos e tranquilizantes entre as mulheres.
- 8% dos universitários já fizeram (ou induziram) aborto. Embora não haja influência aparente do gênero, a faixa etária (mais de 35 anos), tipo de IES (privada) e região administrativa parecem exercer influência sobre esse comportamento.
“O levantamento é o primeiro no País a analisar o comportamento de jovens universitários em relação ao uso de drogas”, comemora Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas-Adjunta e Responsável Técnica pela SENAD.
Segundo ela, o Brasil possui hoje com 2.252 Instituições de Ensino Superior, totalizando mais de 5,8 milhões de estudantes universitários. A entrada na universidade, muitas vezes, inaugura um período de maior autonomia, possibilitando novas experiências, mas também, para muitos, se constitui em um momento de maior vulnerabilidade, tornando-os mais suscetíveis ao uso de drogas e suas conseqüências.
“O uso de drogas e suas conseqüências adversas é um tema de relevante preocupação mundial, dado o número de usuários existentes e seu impacto sobre os indivíduos e a sociedade. Em especial, os estudantes universitários compreendem uma importante parcela desse universo, uma vez que apresentam um consumo de drogas mais intenso e freqüente do que outras parcelas da população em geral”, diz o médico Arthur Guerra, um dos responsáveis pelo levantamento.
Maconha é a droga de maior prevalência
O uso de álcool, produtos de tabaco e outras drogas é um fenômeno mundial que tem transcendido a categoria de “problema de saúde”. No mundo, em 2007, 172 milhões a 250 milhões de pessoas usaram alguma droga ilícita. Entre elas, a maconha é a de maior prevalência anual de uso (entre 143 milhões e 190 milhões de pessoas), seguida imediatamente pelas anfetaminas, cocaína, opiáceos e ecstasy.
Embora este número seja alto, são os usuários problemáticos que fazem o maior consumo. Estimativas, também de 2007, indicaram que, globalmente, havia entre 18 milhões e 38 milhões de usuários problemáticos de drogas, de idade entre 15 e 64 anos.
O uso de produtos de tabaco afeta 25% da população mundial adulta. Quando comparado às drogas ilícitas, as estimativas apontam que 200 mil mortes por ano são decorrentes do consumo de substâncias ilícitas, enquanto que 5 milhões são atribuídas ao uso de tabaco**. Também se calcula que uma população estimada de 500 milhões de pessoas, atualmente vivas, morrerá pelo uso de produtos de tabaco***. Em relação ao consumo de álcool, quase 2 bilhões de pessoas no mundo fazem uso. É a causa atribuível de 3,8% das mortes e 4,6% dos casos de doença em todo o mundo, tendo sido apontado como agente de mais de 60 tipos de doenças****.
*Padrão binge drinking é definido pelo National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism – NIAAA, como o consumo de cinco ou mais doses alcoólicas por homens ou de quatro ou mais doses por mulheres dentro do período de duas horas
**Escritório das Nações Unidas para Controle de Droga e Prevenção de Crime. Relatório Anual de Drogas, 2008
*** Escritório das Nações Unidas para Controle de Droga e Prevenção de Crime. Relatório Anual de Drogas, 2009
****Anderson P, Chisholm D, Fuhr DC. Eficácia e custo-efetividade das políticas e programas para reduzir os danos causados pelo álcool. Lancet. 2009
Organizadores do estudo:
- Dr. Arthur Guerra de Andrade (Professor Associado do Departamento de Psiquiatria da FMUSP, Professor Titular das disciplinas de Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina do ABC e Supervisor do GREA, HC-FMUSP);
- Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte (Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas-Adjunta e Responsável Técnica pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República - SENAD/GSI/PR)
- Lúcio Garcia de Oliveira (Mestre e Doutor em Psicobiologia pelo Departamento de Psicobiologia da UNIFESP e Pós-doutorando pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP).
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